sábado, 23 de abril de 2005


noite clara de ordem e comportamento cansando minha paisagem.
desfaço. a imagem da mulher nua me vem à mente.
passo entre os seios, costelas, anca.
acabo num desvio do olhar para aquela janela
onde as plantas crescem grudadas e lembro que era assim que queríamos as nossas paredes.
com as plantas que trepam e sugam. mas o mofo não tarda a chegar. dispenso os trepares
volto para o copo,
para os meus goles cada vez maiores - questão de treino, mas não quero.
caminho entre as pessoas, entro em todas elas, o quanto mais puder. é que as quero sentidas
em mim, que sou frieza de corpo e de copo. meus olhos já não sei se abertos
e a música agora melhor do que é. está dentro: sorvida
aos pequenos goles que dei, ou pelos passos, ou foram as pessoas que não estou vendo.
já não importa, tudo que me atinge entra agudo com atrasos de anestesia – costelas, ancas,
pelas pernas.
sinto a felicidade bruta da ausência e da desordem que faz a verdade de conta.
sorrio doce
a falta de vontade por um tremor no peito que parece sentimento. distância breve
refeita em sinestesia, o verde gosto da bebida.

sou menos, quando não sou líquida


sábado, 2 de abril de 2005


ando na chuva, molhando os sapatos. enquanto caminho já sou o passado.
enquanto o que me molha, também toca minha plúmbea via,
de tantos insultos e passos

onde ponho tanta inflexão, amargor dos dias?
engulo tudo em saliva fria

pensando: ah, a vida é líquida.