não há mais aquele ambiente de outrora, sabe.
ainda às vezes também faço meus dias assim, sobre letras..
(não letras minhas, sobre letras muito bem feitas).
quinta-feira, 17 de novembro de 2005
segunda-feira, 3 de outubro de 2005
e no fundo será pior. tornar a caminhar pela cidade como se nada tivesse acontecido, sentir a vida criar
calos pela repetição do ato e aceitar a necessidade de se dissolver pelo esquecimento imersa na eficiência
de olhar ruas e vias com a mesma esperança de quem se guarda ao momento: anunciar o excepcional
e dispensar qualquer sorriso pelo medo da espera.
restas tu, Hélène.
terça-feira, 30 de agosto de 2005
quarta-feira, 29 de junho de 2005
não esbarrei nele, pedindo desculpas. não quis que me olhasse tão dentro que sentisse medo.
apenas não quis. agora paro. imóvel, apoio o corpo na amoreira. o sinto. me arrependo
imensamente. volto correndo. desejo as desculpas omitidas. é tão tarde, é tão tarde.. e ele
já não está mais. é ninguém de novo.
segunda-feira, 13 de junho de 2005
plic, tlic, plim.
e o sonho acabou, as pessoas chegaram. o cheiro das bolachas e os goles de café chegaram. as risadas chegaram.
as discussões sobre dinheiro, trabalho e relacionamentos sentaram-se ao meu lado, abafando o som do piano
que saía pela janela e rimava com essa luz das cinco horas que já não corrói mais a frieza da grama.
quinta-feira, 9 de junho de 2005
quinta-feira, 2 de junho de 2005
terça-feira, 31 de maio de 2005
quinta-feira, 26 de maio de 2005
como se a vida a mim gritasse: acorda, anda. e não é nada, senão o sopro seco no peito, no corpo oco, esse choque que agora sinto como batimentos na mesma freqüência - tum, tum - joga-me pra dentro de mim. mais uma vez, mais uma vez ainda. estou deitada. estou? pareço estar, ainda sinto o frio que corta músculos e o chão ladrilhado de trincantes a quebrar minhas omoplatas. acordar.. fazer morrer este ato de morrer? sair de dentro de mim, de ti, da minha pequena morte em que agora vou me distanciando. vejo-te distanciado também, a morrer em mim. a morrer por mim? em mim morrendo ébrio, morte úmida. assisto aos teus golpes últimos, me afundo naquele sentir azulado. ah, como é doce te ver morrer enquanto há nossas ausências. enquanto a morte faz-se frênica, aturdida de delicadezas.
em mim, prefiro ver-te indo.
sábado, 23 de abril de 2005
noite clara de ordem e comportamento cansando minha paisagem.
desfaço. a imagem da mulher nua me vem à mente. passo entre os seios, costelas, anca.
acabo num desvio do olhar para aquela janela
onde as plantas crescem grudadas e lembro que era assim que queríamos as nossas paredes.
com as plantas que trepam e sugam. mas o mofo não tarda a chegar. dispenso os trepares
volto para o copo,
para os meus goles cada vez maiores - questão de treino, mas não quero.
caminho entre as pessoas, entro em todas elas, o quanto mais puder. é que as quero sentidas
em mim, que sou frieza de corpo e de copo. meus olhos já não sei se abertos
e a música agora melhor do que é. está dentro: sorvida
aos pequenos goles que dei, ou pelos passos, ou foram as pessoas que não estou vendo.
já não importa, tudo que me atinge entra agudo com atrasos de anestesia – costelas, ancas, pelas pernas.
sinto a felicidade bruta da ausência e da desordem que faz a verdade de conta.
sorrio doce
a falta de vontade por um tremor no peito que parece sentimento. distância breve
refeita em sinestesia, o verde gosto da bebida.
sou menos, quando não sou líquida
sábado, 2 de abril de 2005
terça-feira, 29 de março de 2005
vê aquilo deitado entre suas roupas, uma pequena trouxinha de pêlos adormecida sobre sua cama. aproxima-se da coisa, sente vontade de ver mais perto, ainda mais perto. calcula que a cabeça do errante equivale a um terço de sua mão. aperta de leve, fazendo aumentar a pressão gradualmente, brincando de testar o contraste da sua força com a fragilidade do bicho.
o gato morde-lhe o dedo. 'ora, veja só como esse maldito se vinga! e finca-me os dentinhos ainda de olhos fechados'.
nu, deitado na cama, põe-se ainda a observar a pequena criaturinha dócil, que dorme. o que faria agora? patinhas rosadas. macias. deliciosas patinhas rosadas e macias como miolo de pão. com a ponta de dois dedos aperta a mão do bichano, simulando um cumprimento. faz do aperto de mãos uma seqüência repetida de vai-e-vens frenéticos. ri-se. aperta com mais intensidade. ri da ridicularidade do seu ser. ri por importunar o pobre gatuno que possui o desvalor das coisas pequenas, das coisas que estão no chão, que não fazem parte da engrenagens que movem sua vida. o que fazia ali? nu, deitado de bruços, desafiando a atenção de uma pequena insignificância que caminha pela casa, que vive no desnecessário; esquecendo dos minutos que se esvaiam na brincadeira tola e solitária. solitária, veja. nem mesmo o animal dá-se conta, dorme. o mundo torna-se aquele momento, aquele instante concentrado nas pequenas partes da criaturinha em seu estado desatento e imóvel. e nada parece mais importante do que esse ínfimo duelo inconsciente.
quarta-feira, 23 de março de 2005
eu simulo.
o corpo limita.
eu quero bizarrias
se elas são comuns à todos.
ninguém é tão limpo
tão invejável,
criterioso,
macio,
ele.
segunda-feira, 14 de março de 2005
diálogo-sindético-adversativo
- mas não, só quero dormir
- mas eu não disse que não devias dormir
- mas eu não quero saber o que dizes
- mas mesmo assim te digo. querendo ou não
- mas pensas que te escutarei?
- mas quem sabe escutas, quem sabe tenho jeito de me fazer ouvir
- mas não há como, sou oposto a ti, ao que queres. desqueira que eu ouça, então
- mas aí me calo
- mas é lógico. aí que está o motivo de tudo que existe aqui