quarta-feira, 23 de março de 2005

Pedro é legal. nenhuma ponta cortante: é redondez polida, desaguda.
pega o copo com medida delicadeza, leva a boca, engole satisfeito, sorri demasiado educado - não pode ser, ninguém pode ser assim. ser tão redondo, polido -, oferece bombons e mostra os limpos dentes a todo gesto de outrem que se agrada aos sorrisos.
demasiado educado.
estudo movimentos, passos em falso. há deslizes, em algum tempo em que não o vêem. e eu procuro. há de haver - se a frase permitir - e hei de vê-lo tropeçar, hei de sorrir à isso sem qualquer polidez, de querer alargar meu corpo ao abraço, pois seremos como somos. como sou. estaremos próximos, seremos meu desejo, carne perecível. mais homens, menos redondezas. e hei de vê-lo se perder. de tê-lo meu. em todo desejo de cerrar estes sorrisos, de cair em corpos duros, de virar líquido e pura sujeira.
aliso anseios desesperados
ele.
eu simulo.
o corpo limita.
eu quero bizarrias
se elas são comuns à todos.
ninguém é tão limpo
tão invejável,
criterioso,
macio,
ele.

onde estão seus gritos, suas dores? nas melindres estúpidas dos que não vivem?
saudades do tempo em que em todo o homem havia um ser humano. um animal desejoso. do tempo em que havia a sua ausência em mim.

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