sexta-feira, 23 de março de 1990

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"cortar as unhas dos pés pra
quem tem uma barriga
é qualquer
coisa de apoplético espumante e caresmim"
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Dois kibes. O copo de café com um dedo de leite, no vidro engordurado. Coisas de botequim e rodoviárias como essa - ou de tantas bocas que entram e saem do lugar, procurando por um desses cheios de café. Bocas em corpos cansados, de horas e ônibus - a fome e um gorgolejo repugnante no líquido leitoso e escuro.

11:18

Com os pés apoiados na cadeira em frente, cruza as pernas esticadas e reclina-se confortável no acento vermelho, que data de 70. Azulejos de flores magras forram e se apagam em todos esses anos de decoração despercebida.

Agora braços apoiados na saliente e rígida barriga, a maionese esparramando-se majestosa na mistura com a coisa que cheira à carne, enquanto os dentes se afundam na comida. Mais maionese. Grandes bocadas que mastigam e reviram esses nacos de qualquer coisa. Olhos no vidro, o vagar confuso dos olhos. A grande janela fragmentando o movimento disperso das vidas que chegam. Que vêm e que deixam, - trapos, mães, saias e ramelas de pequenas vidas amarelas - no carregar apressado dos que trafegam esquecidos.

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